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Quando algo dá errado, a reação mais comum é “apagar o incêndio”: dar desconto para acalmar cliente, esticar prazo, colocar mais gente na tarefa, mandar um e-mail “reforçando o combinado”. Tudo isso alivia a dor por algumas horas – e o problema volta, às vezes maior. Sintomas são barulhentos – causas raiz são silenciosas. Se você não mexe na origem, vive repetindo o remendo.


Sintoma x causa: como diferenciar

  • Entrega atrasada é sintoma – falta de um checklist simples antes de enviar é causa.
  • Cliente irritado é sintoma – expectativa mal alinhada na proposta é causa.
  • Equipe cansada é sintoma – prioridades trocando toda semana é causa.
  • Vendas fracas é sintoma – público mal definido e mensagem genérica são causa.

Um método simples para chegar à raiz

  1. Descreva o fato, sem rótulos
    “Os relatórios das terças chegam incompletos”. Nada de “fulano é desorganizado”.
  2. Faça os “5 porquês”
    Pergunte “por quê?” até chegar em algo de processo, regra, habilidade ou ferramenta. Pare quando a resposta deixar de culpar pessoas e apontar um mecanismo real.
    Exemplo: Atrasou por quê? Porque faltou informação. Por quê? O cliente não enviou. Por quê? O formulário permite envio sem campos essenciais. Causa: formulário mal desenhado.
  3. Olhe o fluxo completo
    Mapeie de 5 a 7 passos da jornada (pedido → produção → revisão → entrega). Onde a bola cai? Qual etapa gera mais retrabalho?
  4. Colete dados, nem que sejam poucos
    Três números bastam: tempo de ciclo, taxa de erro, onde o erro nasce. Você não precisa de um BI – precisa contar direito por duas semanas.
  5. Teste um ajuste pequeno
    Mude uma coisa por vez: um campo obrigatório, um modelo de proposta, um horário de revisão, um “ponto de parada” para checagem.
  6. Meça de novo
    Se a taxa de erro caiu, padronize. Se não, descarte e tente outra hipótese. Causa raiz raramente some com discurso; some com desenho melhor do trabalho.

Exemplos práticos

  • Inadimplência alta
    Sintoma: boletos atrasados.
    Causa raiz: prazos de pagamento maiores que os dos fornecedores + cobrança sem data clara.
    Ajuste: receber antes de pagar, fatura com vencimento previsível, lembrete automático cordial 3 dias antes.
    Efeito: menos atraso, caixa respirando.
  • Retrabalho em design
    Sintoma: cliente “nunca gosta”.
    Causa raiz: briefing frouxo e aprovação só no final.
    Ajuste: roteiro de perguntas obrigatórias, quadro com referências visuais, aprovação de rascunho antes de arte final.
    Efeito: menos idas e vindas, prazos menores.
  • Fila no suporte
    Sintoma: muitos chamados.
    Causa raiz: dúvida recorrente sobre a mesma função mal explicada.
    Ajuste: tutorial de 60 segundos dentro do produto + resposta padrão clara + botão de ajuda no lugar certo.
    Efeito: queda nos chamados repetidos.

Regras simples que evitam tratar só o sintoma

  • Erro repetido vira regra nova: cada falha relevante gera um item de checklist, um campo obrigatório, um padrão de nome.
  • Decisão com dono e data: sem responsável, a “melhoria” vira ideia solta.
  • Uma mudança por vez: mexer em tudo impede saber o que funcionou.
  • Critério de sucesso em uma linha: “reduzir atraso de 32% para 15% em 30 dias”.

Armadilhas que te puxam de volta ao remendo

  • Culpar pessoas: quando o processo é fraco, o resultado depende de herói. E ser herói cansa.
  • “Palestrar” em vez de ajustar: reunião longa não substitui um formulário bem feito.
  • Métrica de enfeite: acompanhar curtida e impressão quando o problema é prazo e margem.
  • Soluções gigantes: comprar um sistema caro para resolver algo que um checklist resolveria.

Ritual semanal de 30 minutos

  1. Escolha um gargalo (o que mais dói).
  2. Traga o fato e três números da última semana.
  3. Rode 5 porquês até chegar em processo/habilidade/ferramenta.
  4. Defina um teste de 7 dias com dono e data.
  5. Anote o que mudar de forma definitiva se der certo.

Um plano de 10 dias para começar

  • Dia 1-2: liste os três sintomas que mais custam tempo e dinheiro.
  • Dia 3: faça 5 porquês do maior deles; escolha uma hipótese de causa.
  • Dia 4-6: implemente um ajuste pequeno.
  • Dia 7-9: meça o efeito e colha feedback da equipe/cliente.
  • Dia 10: padronize ou descarte; escolha o próximo sintoma.

Porque isso importa?

Porque remendo alivia – causa corrigida transforma. Quando você trata a raiz, o problema não volta, a equipe ganha ritmo, o cliente sente melhora real e o caixa agradece. Apagar incêndio mantém a empresa ocupada. Resolver a origem faz a empresa avançar.

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